[2016] Resenha "Vygostky e as teorias da aprendizagem"

 

Onde está Vygotsky?

NEVES, R. A.; DAMIANI, M.G. Vygotsky e as teorias da aprendizagem. UNIrevista, São Leopoldo, v. 01, n. 2, 2006.


Em seu artigo “Vygotsky e as teorias da aprendizagem”, a autora Rita de Araújo Neves propõe uma abordagem crítica sobre a teoria sócio-histórica de Lev Vygotsky, na tentativa de identificar com qual corrente epistemológica esse pode ser melhor enquadrado. Para isso, apresenta o que considera ser as três principais correntes epistemológicas, o empirismo, o inatismo e o interacionismo, e em que medidas Vygotsky se aproxima e se afasta dessas.

Em sua apresentação das diferentes teorias epistêmicas, podemos notar que vincula a definição dos padrões de educação ao poder político, chegando a afirmar isso numa paráfrase de Giusta. Seu posicionamento fica ainda mais claro quanto a esse ponto quando observamos de que maneira ela apresenta as teorias do empirismo e do inatismo, deixando bem marcado seus aspectos negativos, afirmando serem reducionistas, não estimulando a atividade do sujeito que aprende. A autora não chega a afirmar com convicção, mas fica implícita uma crítica a esses dois modelos que a opinião pública muitas vezes defende. Como alternativa a essa passividade que as duas teorias causam, a autora traz a teoria interacionista de Piaget, que ao fazer uma síntese entre empirismo e inatismo, eliminaria a dicotomia entre a transmissão e produção do conhecimento, pois diferente das outras duas teorias, há uma autonomia do aluno na construção do seu saber.

Finalmente Vygotsky entra em cena. Primeiramente em que medida ele pode ser associado ao interacionismo, e a seguir em que pontos diverge da teoria de Piaget. A autora admite as semelhanças entre as teorias dos dois pensadores, uma vez que ambos se opõem a dicotomia da construção do saber. No entanto são as divergências que acabam tendo um peso muito maior na sua concepção – isso fica claro tanto no desenvolvimento que dá a essa questão, abordando muito mais detalhadamente o aspecto, quanto na conclusão do artigo que apresenta, de que a teoria sócio-histórica de Vygotsky pode ser considerada uma corrente a parte das outras.

Esse afastamento se dá na importância que Vygotsky dá à linguagem na constituição do intelecto, uma vez que é essa que efetua a passagem do ser biológico ao ser sócio-histórico, que é onde se dá o verdadeiro desenvolvimento humano. O ser humano se dá dialeticamente, uma vez que a aquisição de conhecimento não é um simples empilhar de novas informações, mas um processo ativo de desenvolvimento. Assim, não há uma relação entre dois elementos, a natureza humana e o meio, o que o interacionismo pressupõe, mas sim um ser que se constrói e só pode ser no social.

Por isso, para a autora, não é correto afirmar que a teoria histórico-social seja uma variante da teoria interacionista; muito menos que a teoria de Vygotsky inclua o “social” na teoria de Piaget, pois não se trata de que o interacionismo não aborde o meio social, mas sim de como esse aborda. Logo, para a autora “o problema não está em trazer o social para o construtivismo, mas em buscar outro modelo epistemológico, diferente do modelo biológico que está na base do interacionismo”.

Assim a autora busca fundamentar que Vygotsky se encontra fora das teorias epistemológicas mais conhecidas (empirismo, inatismo e interacionismo) pela sua abordagem, que tende a ser muito mais psicológica do que propriamente epistemológica. Ela parece concordar muito com o posicionamento de Vygotsky, isto fica definido na sua apresentação, muito menos crítica em relação a possíveis problemas com a teoria. Mas talvez isso tenha seu valor, pois sua apresentação não se limita apenas a teoria como um todo, mas também são apresentados os fundamentos do pensamento de Vygotsky, o que acaba tornando o artigo bem didático para quem está iniciando seus estudos nas teorias pedagógicas.

Andrews Jobim é acadêmico do curso de Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas.

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